O
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) quer transformar a ocupação
da fazenda do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), líder no Senado do principal
partido aliado da presidente Dilma Rousseff, no maior assentamento criado no
governo da petista.
O movimento aconteceu no auge da campanha
eleitoral pelo governo do Ceará, na qual o peemedebista aparecia então com
larga vantagem sobre o petista Camilo Santana (PT-CE), apoiado pelo então
governador Cid Gomes (PROS).
Na ocasião, a ocupação colocou fogo na disputa e
foi tratada pelo senador como um movimento orquestrado pelos irmãos Gomes para
criar a narrativa do empresário muito rico contra o candidato dos pobres. As
imagens da invasão foram usadas na campanha de Camilo, que acabou vitorioso.
Eunício garante que o complexo agropecuário
Santa Mônica, localizado no interior de Goiás, é 100% produtivo, com manejo de
gado de corte, de leite, produção de soja, milho, tomate e feijão dentro das
mais modernas técnicas de produção, além de abrigar uma reserva florestal e uma
reserva de fauna silvestre. A propriedade, que leva o nome da esposa de
Eunício, é um recanto do senador.
O senador e ruralistas da região apontam a
fazenda como uma fazenda modelo, com sistemas modernos de irrigação das
plantações de soja e equipamento automatizado para ordenha e resfriamento do
leite. Segundo Eunício, são produzidas cerca de 130 mil sacas de soja por safra
e até 1.500 litros de leite por dia.
"A fazenda é 100% produtiva. Se querem
comprar terras para reforma agrária, por que tem que ser as do Eunício? Dizem
que tem aqui três mil pessoas? Nunca! No final de semana pode chegar a umas
1000. Mas durante a semana não passam de 500. Os funcionários estão muito
assustados porque há registro de armas, drogas e bebida no local. Já houve até
um assassinato. Um dos invasores matou o outro com um golpe de machado",
diz o administrador Ricardo Lopes.
Com fotos que mostram cercas destruídas e
carcaças de gado abandonadas no pasto, Lopes e o veterinário Bruno Ribeiro
afirmam que os sem-terra, além de matar os animais, estão roubando canos da
rede hídrica da fazenda para canalizar água de uma nascente na área de
preservação ambiental, que já estaria seca com a ação predatória.
A ocupação
No final de julho do ano passado, quando os administradores
do complexo agropecuário Santa Mônica, em Goiás, foram informados pelo dono de
uma loja de material de construção de Corumbá que o estoque de lona havia
acabado, tiveram certeza que se concretizariam os rumores que corriam na
região: a invasão nas terras do senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE) era
iminente.
O assentamento
Planejado para ter duas mil famílias, seria o
mais populoso assentamento instalado nos últimos sete anos. Desde agosto de
2014, as famílias ocupam parte do complexo agropecuário Santa Mônica, no
interior de Goiás. Batizada de Acampamento Dom Tomás Balduíno (um dos
fundadores da Pastoral da Terra), a área foi cercada pelos sem-terra com
trincheiras, barreiras e guaritas. É preciso se identificar para entrar na
invasão, onde eles vivem em barracos. Segundo o MST, são cerca de três mil
famílias; para o Incra, porém, não há nem metade disso atualmente.
O MST ocupa área de cerca de cem hectares
(equivalente a cem campos de futebol), pequena fração dos quase 14 mil hectares
de terra do complexo do senador. A coordenação do MST garante que a parte
ocupada era improdutiva, que o imóvel não cumpre sua função social e deve ser
desapropriado e destinado à reforma agrária. Eunício nega que a terra seja
improdutiva e diz que, na área invadida, existia plantio de soja na fase da
colheita quando o MST chegou. Ele informou que sua propriedade é pioneira na
plantação do produto na região.
Fonte: O Globo.